sábado, 18 de setembro de 2010

1ª Revolucionária do sector feminino

Numa época em que as mulheres estavam limitadas à família, à música e aos bordados, Antónia Pusich defendeu que deveriam também aprender a ler e a escrever para poderem participar na vida social e política do País. Através dos jornais que fundou despertou nas mulheres o sentido cívico que viria a ser uma realidade nos séculos que se lhe seguiram. Conhece-a e admire-a.



Antónia Gertrudes Pusich foi a primeira mulher no nosso país que, como jornalista e directora de publicações periódicas, pôs o seu nome no cabeçalho, sem se esconder, como até aí outras mulheres o haviam feito, atrás de um pseudónimo masculino.
Desde nova que Antónia começou a rabiscar os primeiros versos. Com a educação que o pai lhe dera e os muitos livros de que a rodeou, sabemos que tinha conhecimento de várias línguas e que escrevia desde nova (algo que não era muito comum entre o sexo feminino antes da existência da República). A vida de casada e os três casamentos, bem como os contratempos da vida, só lhe permitiram que publicasse pela primeira vez em 1841.
Antónia Gertudes Pusich escreveu sobre membros da família real, que sempre dedicou à sua família e a ela própria uma grande amizade, sendo mesmo íntima amiga da infanta Isabel Maria. A longevidade da escritora permitiu-lhe atravessar diversos reinados - de D. Maria I até ao reinado de D. Luís.
A sua obra literária é extensa e sabe-se que recorreu à escrita para pagar as despesas da sua numerosa família. Embora muitos dos seus livros só interessem a investigadores, a sua escrita como jornalista e como fundadora de três periódicos ainda se lê com interesse e agrado. Fundou A Cruzada, A Beneficência e A Assembleia Literária que são testemunho de uma faceta de pedagoga e interveniente na vida social e política. Grande sucesso teve, no Teatro Normal, a apresentação da sua peça Constança ou o Amor Maternal, drama autobiográfico. No fim da representação apareceu no palco com as duas filhas mais novas, tendo sido muito aplaudida.

Não apenas coser, pintar e bordar


«Nos outros colégios do Estado e ainda nas escolas particulares igual esmero se vai tendo com a instrução dos meninos e honra seja feita aos professores e directores desses colégios. Mas as meninas!... As meninas imploram atenção, e de todas as pessoas que nutrem sentimentos de humanidade e desejos de ver prosperar a sua pátria.[...]. Enquanto em nossa terra as mulheres não tiverem a precisa instrução literária, ensinam a coser, marcar, bordar, música, etc. Porém a ler, escrever, contar, etc., não. E ainda menos outros estudos. Que mal pode ensinar alguém o que mal sabe... Poucas senhoras sabem escrever bem [...]. Aparecem numa sociedade, ostentam uma brilhante conversação, fazem uma elegante figura... encantam os espectadores... seduzem... adquirem nomeada, estudam todas essas aparências fosfóricas (sic); vai um sábio entrar com elas em discurso... onde está o espírito dessas fascinantes beldades?... Evaporou-se! Nem sabem dar uma razão do que dizem.»

Antónia Pusich, 25 de Agosto de 1849



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